Desde menino almejei o ministério pastoral. Comecei a estudar a Bíblia e a pregar o Evangelho muito novo. Fui para o Seminário Teológico assim que concluí o Ensino Médio.Li bastante, me dediquei muito, orei muito. Ao sair do Seminário, nunca deixei de estudar e me aperfeiçoar para realizar a minha vocação.
No entanto, durante vários anos, enfrentei uma séria crise vocacional que quase me jogou definitivamente para fora do ministério da Palavra de Deus.
O que aconteceu comigo? Em primeiro lugar, eu me decepcionei ao ver tanta idiotice sendo feita em nome de Deus dentro do evangelicalismo brasileiro, especialmente no contexto do pentecostalismo. Em segundo lugar, me frustrei ao ver tanta gente ruim,despreparada, mal intencionada e desqualificada receber o título de pastor. Indignei-me a ver tantos pastores fazendo palhaçada, envolvidos em escândalos, engordando a conta bancária, etc. Terceiro, me assustei com o comportamento competitivo, ciumento, narcisista, "umbilicocêntrico" da parte de líderes evangélicos, especialmente dentro do círculo denominacional do qual fazia parte. Os ideais de menino foram duramente espancados pela dura realidade.
Cheguei a pensar em me dedicar exclusivamente a outros trabalhos e rejeitar para sempre a ordenação pastoral. Principalmente, porque muita gente mal informada e preconceituosa, que não possui noção alguma do panorama religioso brasileiro, tem a tendência de colocar todos os evangélicos e todos os pastores no mesmo saco.
Mas veio o amadurecimento (que processo difícil) e ponderei algumas coisas bem no fundo do coração. Venci a crise fazendo a mim mesmo algumas perguntas:
1. O ministério pastoral é uma vocação divina, bela e necessária para os nossos dias? Concordei que sim. É realidade inegável que o Brasil é um país religioso, com presença evangélica expressiva. E quanto mais líderes sérios, vocacionados e preparados houver, menos espaço terão os falsos mestres e mercenários. "A seara é muito grande, mas são poucos os trabalhadores" (palavras de Jesus).
2. Um médico deve ter vergonha de ser médico só porque há médicos que são uma vergonha para a profissão? Concordei que não. (A mesma pergunta vale para advogados, engenheiros, professores, etc).
3. Alguém que possui consciência da dignidade e honra de sua vocação deve temer o preconceito dos ignorantes? Concordei que não.
4. Eu sei o tipo de pastor que quero ser e o tipo de pastor que não quero ser? Concordei que sim.
5. Em todo tipo de ocupação humana há distinção entre pessoas e pessoas, por exemplo: no jornalismo, há jornalistas e jornalistas; no magistério, há professores e professores? Ou seja, sempre haverá os que são éticos e os que não são éticos; os que são profissionais e os que não são profissionais, etc? Concordei que sim.
Vocês já ouviram aquele adágio popular "os inconformados que se mudem". Pois bem, a conclusão que me salvou da crise vocacional foi: "Os inadequados que se mudem". Ou seja, não são os pastores realmente vocacionados, extensivamente bem preparados e radicalmente comprometidos com o Evangelho que devem abandonar o ministério pastoral. Antes, são os pastores inadequados, isto é, os que não se encaixam nos mui dignos padrões bíblicos do pastorado, que devem cair fora e arrumar outra coisa para fazer na vida.
"Os inadequados que se mudem!". Foi assim, então, que eu fiquei.
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