Luiz Sayão, em seu livro “Agora sim!: Teologia na prática do
começo ao fim”, comenta que “Deus quer que sejamos diferentes, mas alguns
preferem ser esquisitos”. Apesar do tom bem humorado, há uma crítica séria por
trás dessas palavras ao comportamento de alguns evangélicos de nossos dias.
O que aqui vou escrever não parte de resultados de pesquisas
de mestrado ou doutorado, mas de observações ocasionais e de relatos
frequentes. Parece-me que os meios pentecostais e neopentecostais,
principalmente, são fabricantes de gente esquisita, chata, estranha mesmo, que
parece não viver sob o mesmo sol que os demais mortais.
São diversas as esquisitices, como por exemplo: a
demonização de quase tudo (aquela mania de ver demônio em todo lugar, seja numa
lâmpada que queima ou num cachorro que late); a “pecaminização” de tudo que
seja agradável ao corpo e a sacralização da dor e do sofrimento (orar 3 horas
ajoelhado é espiritual, mas passar uns dias na praia é coisa de crente carnal);
a supervalorização das “novas revelações” em detrimento da fiel interpretação
bíblica; a inquisição pastoral (quem
pensa diferente do pastor é rebelde e está “tocando no ungido”); a linguagem da
intimidação espiritual (“faça assim ou faça assado, porque senão Deus vai...”);
a espiritualização da bagunça e da desorganização litúrgica (quanto mais
improvisado, barulhento, gritado e não programado for um culto, mais espiritual
é, parecendo ser surdo e desorganizado o Espírito Santo), etc.
Diante da perda de uma mãe, não é coerente e natural que um
filho chore? Ora, para os filhos de Adão, as lágrimas são transbordamentos de
uma alma tocada pela beleza ou pela dor. Mas em um velório que presenciei, um
desses crentes esquisitos, ao ver o filho lamentar a morte da mãe, teceu o
comentário mais inútil e descabido: “Como pode um cristão que conhece a Bíblia
chorar desse jeito pela perda de uma pessoa querida que partiu em Cristo? Ele
não acredita no céu e na ressurreição dos mortos?”. Soterrar as emoções em meio
a dor, a pretexto de uma aparência de crente super-herói, não é traço de espiritualidade,
mas de insanidade, distúrbio psicológico.
Um outro moço veio a mim, cheio de confusões internas, de
conflitos na alma, porque sofrera um acidente e um tal “profeta” de
esquisitices foi a sua casa lhe dizer que a “causa espiritual” do ocorrido foi
o fato do pobre acidentado não ter pago o dízimo, e Deus, então, “pesou a mão”,
forçando-lhe a gastar com medicamentos aquilo que deveria dar ao Senhor. Um
argumentos desses caricatura Deus e profana o Seu nome.
Não entendam o título do meu texto como um preconceito
barato em relação aos grupos pentecostais. Mas, infelizmente, esquisitices como
essas, são vivenciadas com frequências nesses meios.
Quando Paulo fala sobre Deus escolhendo as coisas loucas do
mundo para envergonhar os sábios, o apóstolo está demonstrando o maravilhoso
mistério da graça, pela qual Deus salva os seus eleitos não pelos méritos ou
qualidades que possam ter, contrastando com os valores e critérios da sabedoria
desse mundo. Jamais Paulo está aqui sacralizando as esquisitices pseudo
espirituais.
Distúrbios psíquicos, ideias e comportamentos equivocados no
arraial evangélico, devem ser tratados e corrigidos e não protegidos sob o
manto da livre expressão subjetiva da espiritualidade.
Este comentário foi removido pelo autor.
ResponderExcluirBravo Jonathas! rs muito bom!
ResponderExcluirDestaque para a parte da "...espiritualização da bagunça e da desorganização litúrgica..." Penso q esse comportamento apesar de ser uma esquisitice como diz o texto, infelizmente ja se tornou tao normal em nosso meio que aí quem discorda é que é taxado de esquisito, digo isso porq honestamente ja me senti algumas vezes como sendo um ET(rs) por discordar totalmente dessa falta de organização em nossoa cultos.
Belo texto viu!! Parabens!