“Farei dois cursos universitários, Direito e Teologia”,
compartilhou-me um jovem. “E por que?”, perguntei-lhe brevemente. “Porque se eu
não der certo como advogado, terei um plano B: ser pastor”. Não vi traço algum
de brincadeira ou cinismo em sua fala.
Infelizmente o trabalho pastoral é reserva de mercado para
muita gente que não se encontrou na vida, que ficou de fora das boas
oportunidades em outras carreiras profissionais, seja pela incompetência, seja
pela má sorte ou seja pelo esmagamento de um processo competitivo e meritório
onde não há mesmo lugar para todos e só os melhores sobrevivem.
Não vejo problema algum nos jovens contemporâneos que sentem
alguma “queda” pelo ministério pastoral, mas também entendem a necessidade de
uma formação acadêmica mais ampla, que relacione os saberes teológicos com
outras áreas do conhecimento humano. Não vejo problema algum em um jovem
vocacionado estudar Teologia e Direito, por exemplo.
O problema está justamente na perspectiva do pastorado como
um “plano B”, uma saída ao insucesso, ou uma possibilidade a mais para aqueles
interessados em explorar seus múltiplos talentos.
Mas alguns espertinhos olham o panorama geral e pensam: “não
deve ser muito difícil; é só vestir uma roupa adequada (o terno e a gravata
para algumas denominações), citar uns versículos bíblicos nas pregações (que
não precisam ser tão bíblicas assim, apenas psicologias motivacionais
adocicadas com chavões homiléticos), ter uma postura condescendente e paternal
(fazer cara de bonzinho e dar uma de prestativo), ser pulso firme com o pecado
dos outros (‘descer o cajado’) e não cair em escândalos morais”.
Além disso, há o problema da simplicidade e credulidade
passional de grande parte dos fiéis e as facilidades burocráticas para se
“montar” a própria igreja.
Ministério pastoral é vocação específica. Ponto final! Não é
oportunidade para se “tentar a sorte”, um meio de se dar bem ou um lugar de
“sombra, água fresca e maré mansa”. Ser pastor não é uma experiência para
aventureiros ou figuras interessadas em experimentar, no “ramo” pastoral, suas
habilidades empreendedoras ou suas capacidades de liderança. Pastorear não é
recurso de autoafirmação ou plataforma para a performance de personalidades narcisistas e ególatras. O pastorado
não é para quem quer seja lá o que for, não é um meio para nada, é um fim em si
mesmo.
O pastorado é ofício
de pessoas (sejam homens ou mulheres) que possuem a profunda consciência de que
não poderiam fazer outra coisa na vida, de que esta é a sua missão essencial e
nela encontram sentido e felicidade existencial.
Ao ler o meu texto, um inteligentinho esquerdista
“evangelicofóbico” (desses que gostam de incitar a opinião popular contra os
evangélicos) poderá dizer: “Tá vendo?!
Os pastores são um bando de oportunistas, aproveitadores da ingenuidade dos
fiéis, usam a fé como negócio.” Mas essa figura não percebe o redutivismo maldoso que comete ou o preconceito generalizador de seu comentário. A
maioria dos pastores é gente séria, vive com o necessário, não anda de carro
importado, não rouba dinheiro dos fiéis, não estimula a intolerância religiosa
ou de qualquer espécie, não se imiscui com jogadas políticas escusas, não
manipula a consciência, não infantiliza seus liderados. Agora, tem “pastor”
canalha? Tem! Assim como tem médico canalha, advogado canalha, jornalista
canalha e por aí vai. A canalhice em todas as esferas da atividade humana. O
problema é essencialmente moral e nada tem a ver com ser evangélico ou católico, de esquerda ou direita, negro ou
branco, hetero ou gay.
Bem, eu acredito em vocação pastoral! Acredito que quem é “pastor
de verdade” não precisa se envergonhar de ser pastor (“excelente obra almeja”),
não precisa procurar outros ofícios e profissões para fazer seu pastorado ser
mais aceitável socialmente (a não ser, é claro, que as condições financeiras da
comunidade que pastoreia, o exija). O pastorado é uma carreira bonita, sim; o
pastor deve se orgulhar por ser sustentado generosamente por sua igreja, sim; e
a comunidade de fé deve se sentir feliz e agradecida, sim, por ter um pastor
que cumpra com honestidade a sua vocação.
No entanto, as afirmações do nosso penúltimo parágrafo valem
para um “pastor de verdade”, repito. Esse negócio de pastor como plano B é um
problema, antes de tudo, moral e não vocacional. Para quem se enquadra nessa situação, meu conselho é: tente outra coisa!
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