Nos nossos dias, ações terroristas de grupos radicais
islâmicos estão espalhando o medo pelo mundo todo, ainda mais com esse poderoso
instrumento de informação que é a internet. Acesso o facebook e está lá, um vídeo compartilhado mostrando fortes imagens
de cristãos sendo barbaramente mortos por extremistas muçulmanos. Não sei como
tem gente de mau caráter que ainda tem coragem de defender esses grupos,
dizendo que são pobres vítimas da opressão de poderes hegemônicos ocidentais
(incluindo a cristandade).
Mas, existe um outro tipo de terrorismo que, por sua
aparência externa de piedade, ainda consegue ser mais nojento. Falo do
terrorismo espiritual, praticado por cristãos evangélicos desequilibrados (como
é o caso de alguns membros de círculos pentecostais) contra seus próprios “irmãos”
na fé.
O terrorismo espiritual, cujos principais agentes são os
chamados profetas e profetizas, é caracterizado por formas de discurso que
geram medo, aflição e desespero, em nome de Deus. É um mecanismo de poder e
controle, empregado por alguns estranhos personagens carismáticos, que é
legitimado por uma suposta autoridade que vem do Céu. Com base em ameaças e chantagem
espiritual, eles conseguem a submissão cega e muda de seus seguidores, sem
enfrentar resistência alguma.
O terrorismo espiritual se expressa em frases, como: “Se
você não fizer isso ou aquilo, Deus vai pesar a mão sobre você!”; “Não toque no
ungido do Senhor!”; “Os rebeldes [entenda-se aqueles que não concordam com os
ensinos e as práticas do arrogante profeta], Deus vai matar”. Eu mesmo já ouvi
sentenças de morte sendo desferidas contra pessoas, em nome de Deus.
Amanda, jovem universitária, contou-me que só se “converteu”
em um culto pentecostal porque certa “profetiza” lhe disse que, caso ela não
aceitasse Jesus naquele exato momento, o diabo a mataria. Quanta bestialidade!
Sendo que as Escrituras, livro onde os evangélicos coerentes, embasam sua fé,
deixa claro que a conversão e o arrependimento são graças divinas, aplicadas
eficazmente pelo Espírito Santo na interioridade do indivíduo. A fé, dom de
Deus, é despertada pela simples pregação do Evangelho e não pelo sermão
violentador da consciência e aterrorizador do espírito.
Caio, é um profissional liberal, muito inteligente e questionador.
Há dois anos, por alcançar uma nova e mais compreensão do Evangelho, decidiu
sair da sociedade religiosa pentecostal da qual era membro para se vincular a
um grupo protestante histórico. Após
essa mudança, ocorreu-lhe uma situação muito triste na vida pessoal. Para
aumentar ainda mais a ferida, assim como os amigos de Jó, apareceu em cena mais
uma dessas profetizas, uma terrorista espiritual, com a seguinte mensagem ao
pobre homem: “Isso lhe sobreveio porque você é um rebelde, abandonou a sua
igreja e perdeu a benção espiritual do seu pastor. Enquanto você não fizer o
caminho de volta, essa maldição não lhe será tirada”.
Isso é uma afronta à liberdade de expressão e crença de uma pessoa. Trata-se de um discurso intimidatório, criminoso, cerceador da livre consciência de fé. Aquele que pratica tal coisa não deveria ficar impune perante a lei. Toda pessoa que confia de todo o coração em Cristo, está nas garras da graça e ninguém pode arrancá-la de lá, sendo Cristo mesmo o único mediador dessa graça de Deus. Isso significa que o favor de Deus não está condicionado à intercessão, mediação ou cobertura espiritual de nenhum sacerdote humano ou líder religioso algum. Quem pode condenar aos que Deus justificou? Quem pode amaldiçoar aos que Deus abençoou?
Isso é uma afronta à liberdade de expressão e crença de uma pessoa. Trata-se de um discurso intimidatório, criminoso, cerceador da livre consciência de fé. Aquele que pratica tal coisa não deveria ficar impune perante a lei. Toda pessoa que confia de todo o coração em Cristo, está nas garras da graça e ninguém pode arrancá-la de lá, sendo Cristo mesmo o único mediador dessa graça de Deus. Isso significa que o favor de Deus não está condicionado à intercessão, mediação ou cobertura espiritual de nenhum sacerdote humano ou líder religioso algum. Quem pode condenar aos que Deus justificou? Quem pode amaldiçoar aos que Deus abençoou?
Já que o nosso texto está um pouco sombrio hoje, vou contar
um último caso, tendo como cenário um funeral. João perdeu a sua esposa. Um
profeta do medo, após a cerimônia fúnebre, procurou o viúvo e, ao invés de
consolo, entregou-lhe uma perversa explicação espiritualizada da causa mortis: “Ela morreu para que você
se acertasse com Deus”. Terrorismo, paganismo, covardia! Até hoje, João lida com o desespero causado
pela culpa de ter sido o possível causador da morte da mulher amada. Tenho
orado com ele, buscando o conforto do Pai de Amor e Misericórdia.
O Deus que
conheço não requer sacrifícios humanos para cobrir os pecados de ninguém.
Cristo, Ele é o único sacrifício, feito de uma vez por todas, aceito para a
redenção daqueles que, graciosamente, desde a eternidade Deus designou para a
salvação. Deus não mata ninguém para salvar ninguém. Quem mata é o diabo e seus
agentes, dentre os quais, os terroristas espirituais. Esses, semeiam morte e
não vida, espalham trevas e não luz, pregam um deus caprichoso e vingativo ao
invés do Deus rico em graça e benignidade, são portadores do desespero e não da
esperança, são servos da escuridão e não da luz.
Nessa história toda, fica agora o velho, porém extremamente
atual, convite dos reformadores da Igreja do século XVI a cada evangélico desse
país: volte-se para as Escrituras, reconhecendo nelas a única profecia revelada
e autorizada por Deus, como fonte de autoridade espiritual e moral, de fé e de
obras, de pensamento e de ação. Não merecem atenção tanto os profetas da
prosperidade, que vendem um deus Papai Noel, manipulado e risível, quanto os
profetas do medo, que criam um deus tirano e ameaçador.
Termino com o artigo 1º do Capítulo 21 da Confissão de Fé de
Londres de 1689, que é um antídoto contra o veneno dos terroristas espirituais:
“A Liberdade que Cristo comprou para os crentes, no evangelho (...) consiste no
livre acesso a Deus, no prestar-lhe uma obediência não suscitada por medo
escravizador; e, sim, por amor, como o de uma criança, voluntariamente”.
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