A grande contribuição ao cristianismo, vinda dos grandes luminares da Reforma, foi a centralização das Escrituras (AT e NT) como única autoridade definitiva para o pensamento e a ação da Igreja. Sola Scriptura é a principal bandeira da Reforma.
Mas, sempre existiram movimentos contrários interna e externamente. No plano interno, a tradição religiosa, sustentada pelas estruturas de poder eclesiásticas, ousou, muitas vezes, falar mais alto que a Bíblia. Fora dos arraiais da cristandade, o racionalismo moderno se empenhou em rebaixar as Escrituras à categoria de um livro de mitos, um texto a ser dessacralizado e submetido à fria e crua crítica racional.
Vamos, então, falar da nossa realidade hoje. Os evangélicos, herdeiros da Reforma, deveriam ser os guardiões do Sola Scriptura. No entanto, o que se vê, a olhos nus, em boa parte do evangelicalismo verde-e-amarelo é o Sofra Scriptura. Isso mesmo. Se alguma coisa tiver que sofrer, para muitos líderes e grupos evangélicos atualmente, que sofram as Escrituras, jamais a tradição tola, jamais os costumes incoerentes e descontextualizados, jamais as novidades teológicas e produtos espirituais que aquecem o mercado religioso.
Como sofrem as Escrituras até sangrar... O que fizeram com a Palavra Encarnada, fazem muitos no nosso contexto com a Palavra Escrita: cospem, zombam, amaldiçoam, chicoteiam, maltratam.
O Sofra Escriptura se evidencia escandalosamente em situações, como:
- quando alguém assume o púlpito sem saber o que está fazendo, usando a Bíblia, em muitos casos, apenas como um start para a pregação ou como forma de legitimar as mais equivocadas e subjetivas ideias;
-quando pastores são ordenados sem a necessária formação bíblica;
- quando a Bíblia é pregada parcialmente, com textos sendo amputados de seus contextos, a fim de sustentar interesses duvidosos ou atender o gosto da clientela;
-quando alguns pastores, ao invés de se empenharem no ministério da Palavra e pregarem todo o conselho de Deus ao rebanho, preferem ser negligentes, dando maior atenção a tarefas secundárias;
-quando profetas de "novas revelações" e gurus espirituais evangélicos recebem maior atenção do que os autênticos e competentes pregadores do Evangelho;
-quando pastores caudilhescos insistem em dominar as frágeis consciências das ovelhas, com seus insuportáveis sermões sobre as mais diversas proibições e "bons costumes", confundindo antiguidade com eternidade, padrões subjetivos e culturais com valores bíblicos eternos, como critica Robinson Cavalcanti;
-quando cristãos carregam a Bíblia para a igreja, mas não a vivenciam em suas realidades pessoais e sociais, ou quando conhecem mais as últimas fofocas sobre os famosos do que textos bíblicos;
-quando se reserva à pregação apenas os 10 minutos finais do culto;
-quando se compõem e se cantam músicas cristãs contemporâneas que não expressam com integridade e beleza a mensagem bíblica...
Poderíamos falar de outras coisas. Mas um outro dia.
Já sofri demais por hoje.
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