segunda-feira, 23 de março de 2015

Taioba não é couve: uma análise crítica do termo “neopentecostal”

No primeiros meses do nosso casamento ("casadinho de pouco", como se fala em Minas), minha esposa, ainda não muito experiente na classificação das verduras, certa vez preparou um delicioso angu com taioba, com um gracioso convite: "venha amor, comer angu com couve!". Ela confundiu os nomes, mas não errou o tempero! Rimos um pouco e comemos com alegria esse prato mineiro. 

Casinhos pessoais à parte, há um movimento religioso crescente no país que tem sido alvo de muitos debates e estudos entre os cientistas sócias, teólogos, filósofos e estudiosos em geral. Trata-se do "fenômeno mais recente, integrante e explosivo do ‘protestantismo’ tupiniquim", segundo Alderi Souza de Matos*. Estamos falando das igrejas neopentecostais, denominada por alguns de "pentecostalismo autônomo", em virtude de seus contrastes com os grupos mais antigos desse movimento.

O neopentecostalismo, conforme praticado em muitas igrejas brasileiras, não possui relação alguma com o pentecostalismo clássico, do qual fazem parte os “protestantes pentecostais, herdeiros daquela igreja original, dirigida por um negro caolho [Willian Seymour]..., mas que abalaria os alicerces religiosos do mundo”, de acordo com o bispo anglicano Robinson Cavalcanti**.

O termo grego “neo” significa “novo”, “recente”. Uma avaliação honesta das igrejas neopentecostais irá revelar sinais preocupantes nos seus ensinos e práticas. O neopentecostalismo - com suas aberrações hermenêuticas (livre interpretação ao invés de livre exame das Escrituras), seu sincretismo místico, seu experiencialismo acentuado, seu antiintelectualismo, sua teologia da prosperidade e quebra de maldição hereditária, seu triunfalismo materialista, seu pragmatismo mercantilista, sua exploração comercial da fé, seu medianismo evangélico (valorização das “revelações” acima da interpretação correta das Escrituras), seu “deus Papai Noel”, seu evangelho “varinha de condão”, suas palavras cabalísticas para abrir todas as portas dos tesouros de Deus, seu relacionamento utilitarista com o Sagrado - não se trata de um “novo” pentecostalismo e sim de um “pseudo” (falso) pentecostalismo. Robinson Cavalcanti assim coloca: 

“Agora, todo teólogo, historiador ou sociólogo da religião sérios, perceberá a inadequação do termo “protestante” ou “evangélico” (por absoluta falta de identificação caracterizadora) com o impropriamente chamado “neo-pentecostalismo”, na verdade seitas para-protestantes pseudo-pentecostais (universais, internacionais, mundiais, galáxicas ou cósmicas), e que é algo perverso e desonesto interpretar e generalizar o protestantismo, e, mais ainda, o evangelicalismo brasileiro, a partir das mesmas”.

Os falsos ensinadores sempre foram um problema para a Igreja de Cristo. Desde os tempos da Igreja Antiga eles foram desmascarados e combatidos pelos apóstolos e polemistas. O pentecostalismo cresceu explosivamente e, quando qualquer instituição, grupo ou movimento social cresce, é inevitável que ao lado do crescimento do trigo haja um aumento significativo do joio. Conforme observa Matos, “o neopentecostalismo representa um grande desafio para as igrejas históricas e mesmo para as pentecostais clássicas. Esse movimento tem encontrado novas formas de atrair as massas que não estão sendo alcançadas pelas igrejas mais antigas”.

Meu coração não está cheio de odiosidade ou orgulho denominacional. Acredito sim que há muita gente séria, cheia do Espírito Santo (o que é demonstrado em suas obras de justiça), buscando crescer na graça e no conhecimento de Cristo (devocionalidade e discipulado) dentro dessas igrejas neopentecostais. Reconheço que o grande problema, como conclui Matos, está “nas megaigrejas e seus líderes centralizadores, ávidos de fama, poder e dinheiro”. Líderes que enganam o povo por interesses gananciosos, verdadeiros “numerólatras” (querem templos cheios de crentes espiritualmente e biblicamente vazios), quando deveriam transmitir-lhe com fidelidade todos os conselhos de Deus.

Há muita taioba sendo confundida com couve.Que o Pai das Luzes nos dê discernimento...

Referências:
*MATOS, Alderi Souza de. A Integridade do Evangelho: uma avaliação do neopentecostalismo.
**CAVALCANTI, Robinson. Deus Não Nos Livre de Um País Evangélico.

Esse texto também foi publicado em: http://www.ultimato.com.br/comunidade-conteudo/taioba-nao-e-couve-uma-analise-critica-do-termo-neopentecostal 

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