No primeiro texto (leia aqui), discuti brevemente sobre a recente onda calvinista que parece estar chegando com força nos territórios pentecostais, especialmente entre os grupos mais jovens.
Nada do que escrevi, o fiz de um ponto de vista científico. Não levantei dados, não realizei pesquisa de campo ou coisa parecida. Quem sabe esse poderia ser um bom trabalho para um cientista da religião.
Mas quando digo que os pentecostais estão descobrindo o calvinismo, estou me baseando na "intuição", nessa percepção livre da realidade, nesse olhar ao redor, no bate-papo informal com muitos jovens evangélicos, nos debates em plataformas virtuais, nos posts em redes sociais.
Muitos jovens com os quais convivo, de origens pentecostais, estão buscando alguma coisa a mais. Ou talvez melhor seria dizer que eles estão buscando o que sentem que se perdeu nas expressões diversas do pentecostalismo brasileiro?
Porque, antes de tudo, parece que esse caminho em direção à fé reformada tem sido um curso natural de um processo de reencontro com o cristianismo puro e simples, conforme ensinado pelos apóstolos de Jesus e redescoberto pelos reformadores cristãos. Não soa como algo forçado, mas como uma desejo efervescente de viver uma espiritualidade cristã mais próxima às Escrituras.
Assim como na época da Reforma Protestante do século XVI a invenção da imprensa pelo alemão Johannes Gutemberg foi um fator crucial para que o movimento se expandisse pela Europa, hoje, a internet tem sido um instrumento poderosíssimo na capilarização das ideias reformadas em nosso solo.
Além da facilidade de circulação de ideias que a Rede possibilita, estamos diante da fragilização doutrinária do pentecostalismo por aqui, da sua capacidade impressionante de metamorfose e criação de formas litúrgicas estranhas e novos estilos de liderança, do seu sincretismo folclórico cada dia mais inovador. Tudo isso prepara o terreno para que a turma mais questionadora se sinta desconfortável e procure por novos caminhos por onde trilhar a fé cristã; caminhos estes que conciliem uma fé vibrante com uma mente pensante, que não superestimem a experiência em detrimento da coerência com todo o ensino de Jesus e dos apóstolos.
Esse processo é saudável. Porque o que me parece que se deseja não é um ataque demolidor das religiosidades pentecostais. Pelo menos, até os limites daquilo que tenho visto e ouvido, quando um pentecostal se interessa pela fé protestante reformada, ele não está querendo dizer apenas que se opõem ao pentecostalismo. Pode sim ter um viés de insatisfação com a mediocridade teológica e espiritual que se percebe em alguns segmentos. Mas não somente isso. Há, sobretudo, a fome de radicalidade, no sentido de "radix", voltar à raiz, conhecer e experienciar a fé cristã com mais profundidade nas Escrituras e na rica tradição teológica e doutrinária da Reforma Protestante.
Alguns debates importantes estão surgindo e se ampliarão. É interessante, agora, aguardar a resposta das imperiosas instituições pentecostais do país. Como reagirão a esse processo? Criarão uma espécie de Contra-Reforma, um combate aos hereges calvinistas, um Index Proibitorium? Ou aproveitarão o momento para repensarem algumas posturas e ideias?
Alguns andam dizendo que os grupos pentecostais já não têm nada mais a contribuir com evangelicismo brasileiro. Penso diferente. É um tempo privilegiado de amadurecimento. O tempo de crescimento quantitativo já acabou. Os pentecostais precisam é aprimorar suas estruturas internas, investir na formação de lideranças bíblica e teologicamente capacitadas, abandonar velhas roupagens descontextualizadas, adequar a linguagem e a pregação aos desafios do nosso tempo, limitar o espaço para a introdução das bizarrices espiritualistas, enfatizar uma espiritualidade bíblica.
Os jovens "pente-calvinistas" têm muito a contribuir com as igrejas pentecostais, caso aqueles tenham paciência e humildade, e caso estas não levantem muralhas rígidas e ameaçadoras, mas abram os portões do castelo para o debate e a reflexão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Caro leitor,
(1)Reservo o direito de não públicar criticas negativas de "anônimos". Quer criticar e ter a sua opinião publicada? Identifique-se. (2) Discordar não é problema. É solução, pois redunda em aprendizado! Contudo, com educação. Sem palavrão!