quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Uma menina à mesa do Senhor

Participava eu de uma celebração da Santa Ceia em uma igreja de tradição protestante reformada. Uma liturgia belíssima e uma preparação irreparável envolviam todos os presentes no mistério da morte redentora de Cristo pelos homens aos quais Deus chamou para a salvação.

Uma menina, com idade aparente de 2 anos, assistia tudo sentada ao lado de uma mulher jovem que, acredito, era a sua mãe. De repente, impulsionada pela curiosidade típica de uma criança, ela desceu do banco e correu à frente da igreja, onde estava a mesa com os elementos sagrados da Ceia. 

 Conseguindo agarrar as mãos na borda de um dos lados da mesa, esticou-se o máximo que pode, sustentando-se na pontinha dos dedos do pé, como uma bailarina, a fim de ver de perto o pão e o cálice. 

Ela ficou ali por alguns segundos, olhando vividamente, sem tocar em nada. Apenas olhava a forma bela como os elementos estavam arrumados sobre a mesa. Graças a Deus, nenhum diácono precipitado arrancou-a de lá. Seus pezinhos doeram e ela, então, voltou e sentou-se novamente ao lado da mãe. 

Foi um espetáculo belíssimo. Nenhuma Santa Ceia me tocou tanto. Foi a aproximação mais encantadora que eu já vi ao Sagrado. 

Chorei, como menino, lembrando-me do Cristo que acolhe todas as crianças, que as abriga em seu misericordioso coração, que recebe o perfeito louvor que sai de seus lábios: "Deixai os pequeninos, e não os impeçais de vir a mim, porque dos tais é o Reino dos Céus." (Mateus 19.14).

Lamentei, lembrando-me das crianças que não têm lugar a mesas onde encontrem alimento, amor, comunhão, dignidade. Crianças apartadas de todo tipo de afeto, que não são bem-vindas em suas próprias casas, Crianças violentadas, inclusive, por motivos religiosos.

Consolei-me, na sensação da misericórdia que há no mundo, aparentemente tão pequena frente a tanta maldade, mas que é real. Há pessoas e projetos sérios em todos os cantos, comprometidos em acolher, educar, curar, alimentar crianças. São "braços" de Cristo protegendo e cuidando. São "ninhos" de Deus. Recordei-me da rica metáfora poética do escritor canônico:

Até o pardal encontrou casa, e a andorinha ninho para si, e para a sua prole, junto aos teus altares, ó Senhor dos Exércitos, Rei meu e Deus meus." (Salmos 84.3).

Imaginei Jesus sorrindo, olhando para a menina e, tomando-a como representante, dizendo a todas as crianças, tanto as que riem quanto as que choram, tanto as de longe, quanto as de perto: "Não temais, pois; mais valeis vós do que muitos pardais."(Mateus 10.31).


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