sábado, 28 de novembro de 2015

Eu sou a Universal!


Quem já não viu aqueles comerciais de televisão da IURD nos quais aparecem empresários bem-sucedidos, testemunhando como saíram do fracasso e passaram a experimentar sucesso total depois de conhecerem a denominação do Bispo? E terminam sempre com o mesmo slogan: “Eu sou a Universal”.
Eu gostaria muito que um dia a IURD selecionasse para atuar em uma peça publicitária um de seus membros que não conta a mesma história. A fala seria mais ou menos assim:

“Eu sou o Zé das Couves, trabalho de sol a sol para sustentar três filhos. Enfrento metrô lotado todos os dias, além de ter que suportar as azucrinações do meu patrão o dia inteiro. Minha esposa está doente. Daqui a cinco dias vence o meu aluguel. Eu não sou super-herói, conheço todas as limitações e sofrimentos que fazem de mim um ser humano comum em um país cheio de desigualdades. Eu sou a Universal!”.

Eu estava um dia em uma padaria de Itaperuna discutindo sobre esse marketing fabuloso da teologia da prosperidade, usado pelas igrejas neopentecostais. Então, um senhor, que aparentava ser de classe bastante humilde, se aproximou, interrompendo a conversa, e disse: “Eu concordo com tudo o que é feito pela Igreja Universal. Porque Deus não quer ninguém pobre. Quanto mais a gente dá o nosso dinheiro pra igreja, mais Deus dá benção pra gente. Abrão era rico e Moisés também”.
Naquele instante, lembrei-me de um pensamento de Pondé: “A Teologia da Libertação escolheu os pobres. Mas os pobres escolheram a Teologia da Prosperidade”[1].  




[1] PONDÉ, Luiz Felipe. Para entender o catolicismo hoje. São Paulo: Benvirá, 2011.

terça-feira, 8 de setembro de 2015

Exorcismo Forçado


 Não sou advogado do diabo, mas nesse texto pretendo “aliviar a barra” dele. Sei que ele é o “pai da mentira”, conforme afirmam as Escrituras. Contudo, também há muitas mentiras e acusações falsas sobre ele. Tem gente por aí atribuindo ao espírito mal obras que não são dele.

“Isso é do diabo!”, é um slogan recorrente na boca de muitos cristãos ignorantes que gostam de ver demônio onde não tem.

A coisa pode chegar ao nível do absurdo. Senão, vejam! Não muitos dias atrás, enquanto caminhava por uma calçada, vi um homem (suas roupas denunciavam que era membro de alguma “seita” pentecostal ultraconservadora)enfurecido com uma adolescente (que suponho ser sua filha). A moça, envergonhada, só ouvia o suposto pai gritar: “quando chegar em casa, arranque logo essas coisas do diabo [brincos] de suas orelhas”.

Bom, penso que o leitor agora deve estar me dando razão por articular essas ideias “favoráveis” ao adversário. Essa prática demoníaca de demonizar tudo é um problema sério. Há aquele crente que demoniza a depressão e tudo quanto é transtorno psíquico, por exemplo. O discurso é o seguinte: “Isso é obra do diabo. Não procure o psiquiatra porque não vai resolver. Vamos expulsar isso da sua vida!”. Um reducionismo ridículo da complexidade dos problemas humanos.

Ver demônios onde não há pode causar situações muito vexatórias e trágicas. Passo a contar ao leitor outra experiência minha, para que a reflexão se amplie. Dessa vez não vi, mas a própria vítima me contou. Vítima? Isso mesmo. Vou descrever o caso...

Trata-se de uma mulher jovem e bem instruída. Estava passando por uma terrível tempestade emocional, quando decidiu ir a uma igreja (dessas que fazem “campanhas da vitória”, “batalha espiritual”, “oração forte”) e pedir oração. Foi recebida por uma “pastora fogo puro”. Ao começar a orar, a pastora recebeu uma “revelação” de que a nossa jovem estava possuída pelo demônio da depressão, da miséria emocional, e outras coisas mais. A partir daí, teve início uma série de rituais, gritos de “sai demônio!”, mãos pressionando a cabeça da vítima, empurra-empurra para ver se “endemoninhada” caía por terra, enfim, aquela confusão toda.

A vítima ficou em estado de choque, sem reação, atordoada, apavorada com o rumo que as coisas tomaram de repente. Não esperava, absolutamente, aquilo. Queria ser acolhida, esperava orações afetuosas, palavras sábias que a acalmassem, súplicas suaves capazes de aliviar a dor.

Então, mesmo ali, acoitada pelo tumulto que criou-se a sua volta, ela reuniu forças, tomou coragem e gritou: “Parem com isso e me soltem agora”. Mas a fúria da ignorância religiosa é mais nefasta que o próprio demônio. Resultado? Consideraram a reação da jovem uma resistência do próprio demônio ao “poder de Deus”, e continuaram com a seção de exorcismo forçado.

Tragédia, ultraje, um verdadeiro “estupro” espiritual. A “vítima” passa bem, mas ainda está se recuperando do trauma sofrido. Indiquei a ela o livro “Feridos em nome de Deus”[1] da jornalista Marília de Camargo César, leitura pela qual poderá conhecer casos de outras pessoas “vitimadas” pela estupidez religiosa, e caminhar junto delas na busca por esperança e cura.

O diabo é o pai da mentira e dos mentirosos. Mas também é o pai da ignorância e dos ignorantes religiosos, da estupidez e dos estúpidos religiosos, da arrogância e dos arrogantes religiosos, da crueldade e dos cruéis religiosos, do fanatismo e dos fanáticos religiosos. É pai do abuso espiritual e de toda a raça de líderes evangélicos abusivos e manipuladores.

Há coisas feitas por alguns homens e mulheres “bem-intencionados” da religião, que o diabo, nem nos seus picos máximos de maldade, teria coragem de fazer.






[1] CÉSAR, Marília de Camargo. Feridos em nome de Deus. São Paulo: Mundo Cristão, 2009.

terça-feira, 4 de agosto de 2015

"Em Nome de Jesus": nada mais que uma gíria do evangeliquês?


Lembro-me quando na boca dos evangélicos a expressão "em nome de Jesus" tinha um tom muito sério, reverente e espiritual. Cresci ouvindo pessoas piedosas orando, invocando o Nome para diversas situações, especialmente curas milagrosas e exorcismos. Tem gente que não acredita, mas eu acredito em sobrenaturalidade. Acredito também que o sagrado possui um significado insofismável na vida de muitos fiéis. Por isso não sou simpático ao pessoal (de jornalistas a humoristas) que gosta de caricaturar os símbolos religiosos das pessoas (seja Jesus ou Maomé).

Bem, os evangélicos cresceram muito, todo mundo sabe disso. Esse crescimento quantitativo não significou melhora da qualidade do evangelicismo brasileiro. Pelo contrário, muita coisa foi vulgarizada. Querem ver um exemplo: tem alguma área da vida da igreja que foi mais bagunçada e inferiorizada do que a pregação e o pastorado com essa explosão evangélica? Os reformadores do século XVI adoeceriam de depressão se vissem o que uma galera "ungida" e autorizada - sei lá por quem para serem pregadores e pastores - está fazendo com a Bíblia por aí.

Uma outra coisa que ficou bem relativizada e vulgarizada, nesse tempo de "deforma" protestante ou cristianismo deformado, é o termo "em nome de Jesus", que virou um clichê, uma repetição banal, com total esvaziamento de significado. Percebo que esse tempo de secularismo dominante, cada vez mais pessoas deixam de levar a religião a sério, inclusive os religiosos. Nesse cenário, continuarão a surgir as igrejas playground, com centenas de fiéis infantilizados e em busca de entretenimentos espirituais. E as igrejas sérias funcionarão como museus, sem muita atração para as massas, mas guardando relíquias antigas e preciosíssimas, como a Bíblia, as doutrinas fundamentais do cristianismo puro e simples,a pregação expositiva e fiel às Escrituras, os sacramentos, a ética cristã. 

Acho muito interessante quando alguém diz: "Em nome de Jesus vou parar de beber refrigerante e emagrecer!", ou "em nome de Jesus vou trocar de smartphone amanhã!", ou ainda, "em nome de Jesus vou namorar aquela moça". O que Jesus tem a ver com isso? Jesus deseja emagrecer, comprar um smartphone e arrumar uma namorada? 

Fazer alguma coisa em nome de outra pessoa significa agir ou falar como se ela o fizesse, trata-se de uma legítima autorização de representação, como acontece com a procuração que o cliente concede ao advogado, ou semelhante ao embaixador representando seu país em território estrangeiro. 

"Na verdade, na verdade vos digo que aquele que crê em mim também fará as obras que eu faço" (S. João 14.12).
"E estes sinais seguirão aos que crerem: Em meu nome expulsarão os demônios; falarão novas línguas; pegarão nas serpentes; e, se beberem alguma coisa mortífera, não lhes fará dano algum; e porão as mãos sobre os enfermos, e os curarão". (S. Marcos 16.17-18).

Fazer algo em nome de Jesus é fazer as obras que Ele fez. E o que Ele fez? Resumindo em uma única palavra: amou! Quando lutamos contra o mal generalizado, presente em nós e no mundo. quando resistimos o diabo com todas as suas tentações, quando ultrapassamos as fronteiras do egoísmo para curar o outro dos males da alma e do corpo, para libertar o outro de todos os tipos de opressão, para proclamar a justiça e a esperança, estamos fazendo as obras de Jesus, portanto, agindo em seu nome.

Mas, lamento,o nome de Jesus virou apenas mais uma gíria do "evangeliquês", ou para fazer um recorte mais específico, do "neopentecostês". Como explica Harry Blamires, aluno de C.S. Lewis na Universidade de Oxford, em seu brilhante livro The Christian Mind: how should a christian think?, a perversão de linguagens e conceitos na literatura, nos filmes, nas telenovelas, nos discursos "inteligentes", nas publicações diárias e semanais, também atingiu a expressão religiosa. É impressionante ver como "em nome de Jesus" tem sido uma exclamação tão vulgarizada e esvaziada de sentido. E o problema é agravado pelos líderes religiosos de caráter duvidoso que usam o nome de Jesus para cá e para lá, mas Jesus mesmo está muito longe deles.

"Muitos me dirão naquele dia: ‘Senhor, Senhor, não profetizamos em teu nome? Em teu nome não expulsamos demônios e não realizamos muitos milagres?’ Então eu lhes direi claramente: Nunca os conheci. Afastem-se de mim vocês, que praticam o mal!” (advertências de Jesus em Mateus 7.22-23). 

Concluindo com um pensamento de Blamires: "Não há nada - nem mesmo sacerdócio, episcopado ou profissão religiosa - que não possa ser pervertido...".

terça-feira, 21 de julho de 2015

Provocações Teológicas (I) : Quem não ouve "música do mundo" que atire a primeira pedra - Sobre o caso Thalles Roberto



Na última semana “viralizou” na internet um vídeo no qual o cantor Thalles Roberto dizia em um evento religioso que não mais cantaria para os evangélicos. Não demorou muito para que “pipocasse” uma enxurrada de críticas.  Em primeiro lugar quero dizer que estou muito longe de ser um “fã” do cantor. Nunca comprei seus CD´s,  muito menos ouço suas canções; não gosto mesmo. Entretanto, confesso que fiquei de certo modo curioso para ver as reações dos evangélicos nas redes sociais após o anúncio do Thalles. Li, as mais variadas frases: “Esse cantor nunca me enganou”, “desviado” “vai agora cantar música do mundo”, “Thalles agora vai cantar música secular”. É como se o Thalles deixasse de ser um cantor “sagrado” e tornasse agora um cantor “profano”, “secular”, “do mundo”.

Entretanto acredito que TODAS as músicas que ouvimos, sejam elas evangélicas ou não são do mundo; isso mesmo. Todas as músicas são do mundo. Sabe aquela música “abençoada” daquele cantor gospel “abençoado” que você tanto ouve e gosta? Aquela mesma que durante o culto você canta de mãos levantadas e até se emociona e chora? Pois é, essa música abençoada é do mundo também. O compositor dessa música escreveu-a numa linguagem do mundo (português), os instrumentos musicais eram do mundo (guitarra, violão, contra-baixo, bateria, entre outros); a plataforma a partir do qual você ouve essa música é do mundo (CD, DVD, internet, etc). Você já reparou também que os cantores evangélicos mais tocados no Brasil são de gravadoras “do mundo”? (Sony, Som livre, etc). Por isso, quem nunca ouve “música do mundo” que atire a primeira pedra.


segunda-feira, 20 de julho de 2015

As Declarações de Thalles Roberto e o Dever de Casa dos Evangélicos Brasileiros


Thalles Roberto, com seu redirecionamento vocacional para o mercado da música secular e suas declarações "nabucodonozorianas" ("vejam a grandeza da minha glória, tudo o que conquistei com a força do meu talento superior ao de todos os demais da música gospel), deixou muitos evangélicos com o coração dolorido. Diversos cantores já reconhecidos no mundo evangélico se posicionaram, uns com aquele discurso de "o que vem de baixo não me atinge", e outros com falas condescendentes e misericordiosas, do tipo "estamos prontos a lhe perdoar, quando você se converter de verdade".

Na verdade, essa mágoa e ressentimento de um expressivo número de evangélicos com o Thalles revela a imaturidade e a ingenuidade dessa gente. Eu estou aplaudindo o cantor rebelado até agora. Sabe por quê? Porque ele fez um grande favor ao movimento evangélico brasileiro. Mas, de fato, muitos fiéis não conseguiram ver a coisa por essa janela, o que confirma o pensamento que lê-se em O pequeno príncipe: "o essencial é invisível aos olhos".

O que o Thalles fez, e nisso ele prestou um grande serviço aos evangélicos que querem crescer, foi desmascarar ainda mais a ilusão que se chama "música gospel brasileira". Ao revelar os próprios pecados, ele colocou o dedo na ferida de todos os envolvidos no esquema. É por isso que, imediatamente, muitos cantores gospel fizeram questão de dizer "ai!" nas redes sociais e proteger o seu self-marketing com uma conversinha defensiva, como "ele é ganancioso, é isso, é aquilo, mas graças a Deus não sou como ele".

Thalles abriu novamente o espaço de discussão para que os evangélicos pensantes possam gritar mais uma vez e, quem sabe agora, serem ouvidos por alguns: "a música gospel no Brasil é business". Fiquem calmos, sei que há cantores evangélicos, cujas obras são expressões da arte cristã e da adoração a Deus, com sinceridade profunda e estética admirável. Mas estes, não são famosos, não vendem milhares de cópias, não ganham fortunas com cachês altíssimos; suas músicas são os acordes e os tons de uma consciência de vocação, de um chamado ao discipulado.

Muitas comunidades evangélicas agora estão se sentindo traídas, porque construíram toda a sua filosofia de dinâmica e crescimento de igreja sobre o ideal de culto modernizado com sua música gospel contemporânea. Se sentem traídas porque uma das estrelas em evidência, representante dessa categoria musical, demonstrou explícita e implicitamente, que o "ministério" desses "levitas" não passa de negócio, e a música que cantam, de produto de mercado.

A partir da década de 90 do século passado, por fatores diversos que não podemos discutir nesse texto, os evangélicos embarcaram em uma locomotiva de crescimento numérico que continua até hoje a todo o vapor. Segundo dados do IBGE, em 1991 somente 9,05% da população brasileira se identificava como evangélica. No censo publicado em 2000, 15,4% dos brasileiros declararam ser evangélicos. Uma década depois, conforme nos mostrou o censo 2010, o cenário religioso brasileiro sofreu uma redefinição incrível: o Brasil tem 22% de pessoas que seguem alguma denominação evangélica. É um crescimento explosivo de 61% em apenas 10 anos. Se as previsões do filósofo Luiz Filipe Pondé (PUC-SP) estiverem corretas, "o país, continuando na mesma batida, terá uns 50% de população evangélica em poucos anos"  (Folha de SP, 22/06/2015).

O que esses dados têm a ver com a música gospel? Trago ao meu leitor uma resposta dada por alguém que pesquisou o assunto, o doutor em Ciências Sociais Robson de Paula (UERJ). A longa citação justifica-se por sua importância na compreensão das ideias que exponho aqui.

"Tal crescimento, além de ressoar em diferentes esferas e segmentos sociais, também produz impacto na esfera do consumo. Com o objetivo de atingir esse segmento religioso, um conjunto de empresas de diferentes áreas especializou-se na produção de 'produtos evangélicos', criando, conseqüentemente, um nicho específico no mercado nacional. [...] No conjunto dessas empresas, destaca-se a indústria fonográfica evangélica. A partir dos anos de 1990, por iniciativa de alguns empresários ou denominações evangélicas, foram fundadas grandes gravadoras no país. Nessa década, a Line Records, a Gospel Records, a TopGospel e a MK Publicitá, juntamente com as rádios do segmento, passaram a imprimir um estilo industrial na produção, na divulgação e distribuição de álbuns em todo território nacional. Como contrapartida dessa atuação mais industrial das grandes gravadoras, ocorre a formação das celebridades. Até os anos de 1990, a maioria dos cantores evangélicos, salvo raras exceções, alcançava somente uma pequena e restrita audiência. Com a fundação das empresas fonográficas, alguns tornaram-se celebridades em decorrência da distribuição sistemática de seus álbuns e do acesso facilitado às mídias evangélicas". 

O que Robson de Paula está dizendo, em síntese?  O crescimento significativo dos evangélicos criou as condições ideais para a formação de um mercado dirigido para este segmento religioso, desencadeando o processo de industrialização e massificação da música tocada e produzida pelos evangélicos no Brasil. Tal processo se expressa na constituição das grandes gravadoras, no surgimento das celebridades, na variedade de locais nos quais a música é executada e na diversificação dos ritmos. Como evangélico tradicional não consome "música do mundo", os espertos perceberam o negócio fabuloso de vender "música de Deus" para essa massa consumidora em potencial.

As músicas que muitos evangélicos estão cantando em seus cultos, majoritariamente, não são adorações inspiradas, mas produtos comerciais que correspondem a uma lógica de mercado e a uma tendência do gosto do público consumidor. Por favor, não vá me dizer que você pensava que a Som Livre se converteu a Jesus? O slogan "Você adora e a Som Livre toca" é uma jogada de marketing estratégica, revestindo o consumo de produtos religiosos, bem como a inciativa da própria empresa, com uma roupagem espiritual e com um motivo devocional, cúltico. 

Termino, apenas indiciando, timidamente, o dever de casa dos evangélicos agora. Deverão sair dos cultos, ir para as suas casas e refletir o quanto aquilo que cantam individual ou coletivamente é nada mais do que produto de consumo massificado, artificial, sem integridade bíblica e profundidade espiritual, articulado com os interesses dos empresários e as tendências do mercado. Não estou sugerindo que o evangélico consciente deva destruir seus Cd's e DVD's dos famosos do mercado gospel. Minha sugestão singela é: ouça essa turma como se estivessem ouvindo qualquer outro cantor e músico secular. Isso mesmo, é tudo produto comercial; a diferença é que a música gospel usa o nome de Deus ou de Jesus ou do Espírito Santo, dando a impressão ilusória de que são mais santas, inspiradas, dádivas de louvor ao Criador. E, ainda quanto ao dever de casa, as denominações evangélicas brasileiras precisam passar por um tratamento de desintoxicação do produto químico chamado gospel. Os nossos cultos estão extremamente poluídos e contaminados. "Há morte na panela, oh povo de Deus!". Devemos repensar as músicas para a nossas liturgias, para a nossa devoção pessoal, para a nossa práxis evangelizadora.

Thalles, meu querido, que muitos outros famosos do gospel sigam seu exemplo, e usem o seus talentos para ganhar muito dinheiro e ficar ainda mais famosos; só que sem usar o nome de Deus e a paixão religiosa das pessoas.



Escrito por Jonathas Diniz em 21/07/2015 - Ipatinga/MG



Referência: DE PAULA, Robson. Os Cantores do Senhor: Três trajetórias em um processo de industrialização da música evangélica no Brasil. Revista Religião e Sociedade, nº 27, ano 2007, pp. 55 a 84. Disponível em: http://scielo.br/scielo.php?pid=S0100-85872007000200004&script=sci_arttext.


sexta-feira, 17 de julho de 2015

Não sou "Pentecosfóbico"

Um leitor enviou-me uma crítica, acusando-me de pentecosfóbico. Interessante. Trata-se de mais um verbete no dicionário de "fobias" dessa nossa democracia, onde pensar diferente faz de você "algumacoisafóbico". 

Pentecosfobia seria algum tipo de ódio contra pentecostais. Se eu odiasse os pentecostais, odiaria muita gente que jamais odiaria: meus pais participam desde a infância de um grupo pentecostal que agrega, hoje, a maior parte de fiéis desse segmento - as Assembleias de Deus; muitos parentes em linha reta ou colateral frequentam reuniões em igrejas pentecostais ou neopentecostais; conheci a minha esposa em uma igreja pentecostal (a maior contribuição do pentecostalismo feita a mim); minha irmã canta todos os domingos em um culto pentecostal; tenho amigos guardados no lado esquerdo do peito que são pentecostais. A lista pode ser muito maior, mas não é necessário.

Seu eu fosse pentecosfóbico teria que odiar milhões de brasileiros, pois - seja isso positivo ou não - a realidade é que  "o país, continuando na mesma batida, terá uns 50% de população evangélica em poucos anos", como escreveu Pondé em sua coluna na Folha no dia 22/06/2015. E sabemos que os grandes responsáveis por esse crescimento sem precedentes de evangélicos no Brasil são os movimentos pentecostais e neopentecostais. 

O ódio religioso não é uma patologia psicológica da qual sofro. Essa questão é séria. Mesmo no nosso mundo cientificamente evoluído e com tanto papo de tolerância e ecumenismo sabemos que muitas mortes ainda têm como causa conflitos de ordem religiosa. Pessoas continuam odiando e matando em nome de seu deus. Há católico que odeia evangélico e vice-versa. Há evangélico que não suporta candomblecista e vice-versa. Há muçulmano que quer expurgar o mundo da praga chamada "cristão" e vice-versa. E há o evangélico que detesta um evangélico de outra denominação que não a sua. Já vi um monte de piadinhas de humor negro feitas por tradicionais contra pentecostais e vice-versa. Tem calvinista que não consegue conversar com um arminiano e vice-versa. 

Não, meu problema não é com os pentecostais, em sua maioria gente simples e muito sincera em sua busca por um cristianismo mais piedoso, mais espiritualmente vivo. Meu problema é com os contornos que o pentecostalismo brasileiro vêm apresentando em nossos dias. Perdoem-me os pentecostais de coração, mas não posso deixar de dizer que o pentecostalismo clássico, equilibrado, coerente com as Escrituras e com a herança teológica da Reforma Protestante está em fase terminal. Até mesmo as Assembleias de Deus, guardiãs do pentecostalismo de raiz no Brasil, estão sendo devoradas pelo neopentecostalismo (com sua teologia da prosperidade, seus apetrechos ungidos, suas reuniões com muito apelo sentimental e antiintelectual, seu analfabetismo bíblico, seus pastores midiáticos e milionários, seus fiéis infantilizados e manipulados, seu clericalismo veterotestamentário, suas músicas sentimentalistas e ególatras, dentre outras tantas marcas). 

Não estou sendo categórico aqui, mas a constatação mais óbvia parece ser que o neopentecostalismo sofrerá novas mutações genéticas e sobreviverá como espécie cada vez mais forte no nicho religioso brasileiro. E mais: essa espécie permanecerá dominante sobre as demais, cravando seus tentáculos profundamente inclusive nas denominações protestantes históricas. Estas, se quiserem ser fiéis ao legado dos reformadores, terão que suportar sobreviver como grupos cada vez mais reduzidos, como ilhas isoladas no oceano, como espécies em extinção. Continuaremos experimentando um processo de neopentecostalização desenfreada no evangelicismo tupiniquim.

Não sou pentecosfóbico. A questão é que não sou simpático a um gênero de pentecostalismo que gera uma espécie de cristão esquizofrênico, biblicamente desnutrido, espiritualmente confuso e mentalmente alienado. E quanto às lideranças, como poderia eu respeitar e admirar esses milagreiros e "semi-deuses" (esse é o único título eclesiástico que falta no neopentecostalismo) que se aproveitam do poder espiritual que exercem sobre as pessoas para obterem poder político e econômico? Como não discordar desse misticismo sincrético absurdo, da confusão hermenêutica, da bagunça cúltica, da exploração comercial do sagrado, da manipulação da consciência?

Sinais de esperança no horizonte do pentecostalismo aparecem aqui e acolá, como é o caso da Assembleia de Deus de Herança Reformada em Maringá-PR, que conheci através do meu blog. É uma igreja nascente que busca a síntese entre um pentecostalismo clássico não neopentecostalizado e a tradição teológica da Reforma Protestante. 

Assim como não sou pentecosfóbico, também não sou tão pessimista assim. Há muitos pentecostais conscienciosos que estão percebendo que o trem do pentecostalismo em algumas igrejas já descarrilhou há muito tempo. Citando Nicodemus, acredito que "quem sabe os pentecostais não estejam predestinados a avançar bastante a teologia da Reforma no Brasil?".



quinta-feira, 9 de julho de 2015

Sobre as mulheres "feias" de igrejas bonitas

Igreja deve ser um lugar onde nossas feiuras se tornam belezas. Não só belezas da alma, pela ação do Espírito Santo em nós, nos transformando segundo a imagem bela de Cristo Jesus, o que a teologia cristã chama de santificação. Mas a igreja deve ser lugar de belezas exteriores também, do cultivo de uma estética do corpo.

Não estou defendendo o narcisismo,o exibicionismo, nem o culto ao corpo. O que quero defender aqui é que "feiura" não tem nada de enlevo espiritual. Sou contra o enfeiamento religioso das pessoas. É isso mesmo. A religião pode "enfeiar", ou melhor, tem muita gente feia, religiosamente falando.

Essas feiuras religiosas podem ser internas (estética da alma), como por exemplo aquelas pessoas que são religiosas "de carteirinha", mas são mesquinhas, mentalmente depravadas, arrogantemente individualistas, moralmente liberais...

E há as feiuras externas (estética do corpo), como por exemplo aquelas pessoas religiosas que pensam que ser "espiritual" tem a ver com ser feio, mal vestido, desengonçado, esquisito, apagado, de semblante carregado. Os fariseus dos tempos de Jesus não achavam que, ao jejuarem, tinham que se apresentar em público descabelados, ostentando piedade através da exibição da feiura?  

E, infelizmente, são as mulheres as principais vítimas desse "enfeiamento" religioso externo. Porque a beleza é um dom dado às mulheres (os homens podem ser no máximo "gente boa"). Mas as religiões podem contribuir para eclipsar a beleza feminina, principalmente algumas vertentes mais carrancudas do pentecostalismo no Brasil ("pentecoschatismo").

Pergunto:  que demônio há em um estojo de maquiagem?; que pecado há em um par de brincos? que escândalo há em um corte de cabelo?; que maldição traz para uma mulher uma calça?

Confesso a vocês que acho extremamente cansativa qualquer discussão em torno do problema de encontrar ou não encontrar alguma proibição bíblica ao uso de calça por mulheres. Não tenho paciência mais. E tenho pena (falo sem arrogância) das moças de igreja que vivem em angústia interna, moral, espiritual e existencial, por causa dessas chatices.

E arrisco fazer uma previsão drástica: os pastores e líderes de igrejas que acham que a atividade pastoral se resume ao papel de fiscal ou controlador do comportamento individual dos fiéis estão destinados a se tornarem obsoletos, pastoreando igrejas mirradas.

Não estou dizendo, isso é bom deixar claro, que não caiba aos pastores a orientação moral e espiritual das pessoas que pastoreiam, com base em inconfundíveis princípios cristãos. Mas caudilhismo pastoral não deve ser tolerado. O apóstolo Pedro já dizia que os pastores não devem ser dominadores do rebando.

Não faz muito tempo, convidado por um amigo, entrei em uma igreja nova, muito linda, de uma arquitetura deslumbrante. Mas o discurso do líder era horrível e mofado. Dessa parte eu me lembro muito bem: "As irmãs que forem pegas  usando jóias (esses adereços do diabo) serão impedidas de participar da Ceia do Senhor [Comunhão ou Eucaristia, como se diz em outros ramos do cristianismo]". A única coisa diabólica que vi na igreja era o próprio discurso pastoral. Pelo amor de Deus, não dá mais para a gente ouvir umas coisas dessas.

Mulheres evangélicas, eu vos escrevi porque sois belas, e a Palavra de Deus permanece em vós, é já vencestes o maligno. Pecado é deixar-se enfeiar pela manipulação religiosa; diabólica é a alienação religiosa; escandaloso é a liberdade do Evangelho sendo negada por fariseus que querem colocar sobre os ombros dos fiéis fardos pesados e difíceis de suportar, porém nem com o seu dedo estão dispostos a movê-los.



sábado, 4 de julho de 2015

"Quem Sou Eu?" Por Dietrich Bonhoeffer

Nesses tempos em que buscamos seguidamente auto-promoção, o self-marketing, desesperadamente preocupados em "sair bem na foto", exibindo um "eu" que, muitas vezes, nada tem a ver com quem somos, mentindo o tempo todo para nós mesmos,  vale a pena ler esse maravilhoso poema de Dietrich Bonhoeffer que apresento a seguir. 

Aqui, o teólogo-mártir alemão caminha pelos labirintos da sua alma, buscando a resposta sincera e íntima à pergunta essencial: "quem sou eu?".

Bonhoeffer foi muito mais que um teólogo de gabinete ou um pastor preocupado apenas com "almas". Ele decidiu levar o discipulado cristão até às últimas consequências, desafiando o poder nazista e denunciando a igreja ofial alemã que, por amor a Hitler, negou  a Cristo. Foi enforcado pelos nazistas aos 38 anos de idade.


Quem sou eu?*




Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que saio da minha cela
tão sereno, alegre e firme
qual dono de um castelo.

Quem sou eu? Seguidamente me dizem
que da maneira como falo
aos guardas, tão livremente,
como amigo e com clareza
parece que esteja mandando.

Quem sou eu? Também me dizem
 que suporto os dias do infortúnio
impassível, sorridente e com orgulho
como alguém que se acostumou a vencer.
Sou mesmo o que os outros dizem de mim?
Ou apenas sou o que sei de mim mesmo?
Inquieto, saudoso, doente,
como um passarinho na gaiola,
sempre lutando por ar, como se me sufocassem,
faminto de cores, de flores, às vezes de pássaros.

Sedento de palavras boas, de proximidade humana, 
tremendo de ira a respeito da arbitrariedade
 e ofensa mesquinha,
nervoso na espera de grandes coisas,
em angústia impotente pela sorte de amigos distantes,
cansado e vazio até para orar, para pensar, para produzir,
desanimado e pronto para me despedir de tudo?

Quem sou eu? Este ou aquele?
Sou hoje este e amanhã um outro? Sou porventura tudo ao mesmo tempo?
Perante as pessoas um hipócrita?
E um covarde, miserável diante de mim mesmo?
Ou será que aquilo que ainda em mim perdura,
seja como um exército em derradeira fuga,
à vista da vitória já ganha?

Quem sou eu?
A própria pergunta nesta solidão
de mim parece pretender zombar.
Quem quer que sempre eu seja,
tu me conheces, ó meu Deus,
SOU TEU.

Dietrich Bonhoeffer (1906-1945)



*Extraído da biografia de Bonhoeffer escrita por Eric Metaxas: "Bonhoeffer: pastor, mártir, profeta e espião". Editora Mundo Cristão.

sexta-feira, 3 de julho de 2015

A Fé e a Cidade



Seria uma tarefa difícil, para não dizer impossível falar de vivência cristã sem mencionar a fé, tendo em vista que o cristianismo tem como fundamento a fé em Jesus. Sendo assim, é sobre a fé que gostaria de falar aqui. Entretanto, não me refiro àquela fé que é potencializada de “dentro para fora”. Mas alguém pode perguntar: o que é uma fé de “dentro para fora”? É um tipo de fé baseada no “eu tenho que fazer”: tenho que orar, tenho que jejuar, tenho que consagrar para ter mais fé.  Não trato dessa fé aqui.  Quero falar de uma fé que é potencializada de “fora para dentro”. Mais uma vez alguém pode questionar: o que é uma fé de “fora para dentro”? É um tipo de fé que surge a partir dos desafios e problemas da vida cotidiana e que me levam a querer “ser”, “conviver” e “agir”.
Quase sempre pensamos a fé como algo que move a Deus. Não! Fé não move a Deus! Fé move a mim mesmo e me leva a “ser”. Mas “ser” o que? Diante dos desafios do nosso tempo é ser alguém comprometido com a justiça, com os problemas da cidade. É ter consciência que problemas como violência doméstica, injustiça, discriminação dizem respeito a nós e como cidadãs e cidadãos podemos sim, ajudar no enfrentamento desses problemas. Portanto, a fé me leva a ser!
Uma fé baseada no individualismo, num primeiro momento pode parecer forte, mas no fundo ela é fraca por ser egoísta. Quando alguém enche o peito e brada num alto e bom som: “Eu recebo”, “eu tomo posse”, pode parecer um “super-crente” para usar a expressão de certo teólogo. Entretanto ele é fraco, pois sua oração vai na contramão daquilo que Jesus disse “Venha a nós o teu Reino”. Nesse contexto, a fé é potencializada num ambiente comunitário; ela se solidifica na convivência. Entretanto, essa convivência não é apenas num templo religioso, ou seja, com os que são “de dentro”. Temos que ter a coragem de estabelecer pontos de contato com os que são “de fora”: as crianças órfãs e abandonadas, os adolescentes em situação de risco social (você sabia que é alto os indicies de depressão e suicídio entre adolescentes?) e todos aqueles que vivem “a beira do precipício “existencial”.
E por fim, a fé me leva a ação. Você não precisa ser um vereador ou deputado evangélico para agir ou defender os princípios do Reino de Deus (aliás, Deus não precisa de defensores ou apologistas, mas essa é uma outra história). A igreja, enquanto corpo nunca precisou de representantes no parlamento. John Wesley, o fundador do metodismo disse uma frase que ficaria famosa no decorrer dos anos: “O mundo é a minha paróquia”. Parafraseando Wesley podemos dizer hoje: “A minha cidade é a minha paróquia”. Desse modo, os problemas de nossa cidade como injustiça, fome, violência, podem ser combatidos mediante a nossa atuação, pois são esses elementos que potencializam a nossa fé e nos move a agir.

Osiel Lourenço

sexta-feira, 26 de junho de 2015

Ser pastor não é plano B

“Farei dois cursos universitários, Direito e Teologia”, compartilhou-me um jovem. “E por que?”, perguntei-lhe brevemente. “Porque se eu não der certo como advogado, terei um plano B: ser pastor”. Não vi traço algum de brincadeira ou cinismo em sua fala.

Infelizmente o trabalho pastoral é reserva de mercado para muita gente que não se encontrou na vida, que ficou de fora das boas oportunidades em outras carreiras profissionais, seja pela incompetência, seja pela má sorte ou seja pelo esmagamento de um processo competitivo e meritório onde não há mesmo lugar para todos e só os melhores sobrevivem.

Não vejo problema algum nos jovens contemporâneos que sentem alguma “queda” pelo ministério pastoral, mas também entendem a necessidade de uma formação acadêmica mais ampla, que relacione os saberes teológicos com outras áreas do conhecimento humano. Não vejo problema algum em um jovem vocacionado estudar Teologia e Direito, por exemplo.

O problema está justamente na perspectiva do pastorado como um “plano B”, uma saída ao insucesso, ou uma possibilidade a mais para aqueles interessados em explorar seus múltiplos talentos.

Mas alguns espertinhos olham o panorama geral e pensam: “não deve ser muito difícil; é só vestir uma roupa adequada (o terno e a gravata para algumas denominações), citar uns versículos bíblicos nas pregações (que não precisam ser tão bíblicas assim, apenas psicologias motivacionais adocicadas com chavões homiléticos), ter uma postura condescendente e paternal (fazer cara de bonzinho e dar uma de prestativo), ser pulso firme com o pecado dos outros (‘descer o cajado’) e não cair em escândalos morais”.

Além disso, há o problema da simplicidade e credulidade passional de grande parte dos fiéis e as facilidades burocráticas para se “montar” a própria igreja.

Ministério pastoral é vocação específica. Ponto final! Não é oportunidade para se “tentar a sorte”, um meio de se dar bem ou um lugar de “sombra, água fresca e maré mansa”. Ser pastor não é uma experiência para aventureiros ou figuras interessadas em experimentar, no “ramo” pastoral, suas habilidades empreendedoras ou suas capacidades de liderança. Pastorear não é recurso de autoafirmação ou plataforma para a performance de personalidades narcisistas e ególatras. O pastorado não é para quem quer seja lá o que for, não é um meio para nada, é um fim em si mesmo.

 O pastorado é ofício de pessoas (sejam homens ou mulheres) que possuem a profunda consciência de que não poderiam fazer outra coisa na vida, de que esta é a sua missão essencial e nela encontram sentido e felicidade existencial.

Ao ler o meu texto, um inteligentinho esquerdista “evangelicofóbico” (desses que gostam de incitar a opinião popular contra os evangélicos) poderá dizer: “vendo?! Os pastores são um bando de oportunistas, aproveitadores da ingenuidade dos fiéis, usam a fé como negócio.” Mas essa figura não percebe o redutivismo maldoso que comete ou o preconceito generalizador de seu comentário. A maioria dos pastores é gente séria, vive com o necessário, não anda de carro importado, não rouba dinheiro dos fiéis, não estimula a intolerância religiosa ou de qualquer espécie, não se imiscui com jogadas políticas escusas, não manipula a consciência, não infantiliza seus liderados. Agora, tem “pastor” canalha? Tem! Assim como tem médico canalha, advogado canalha, jornalista canalha e por aí vai. A canalhice em todas as esferas da atividade humana. O problema é essencialmente moral e nada tem a ver com ser evangélico  ou católico, de esquerda ou direita, negro ou branco, hetero ou gay.

Bem, eu acredito em vocação pastoral! Acredito que quem é “pastor de verdade” não precisa se envergonhar de ser pastor (“excelente obra almeja”), não precisa procurar outros ofícios e profissões para fazer seu pastorado ser mais aceitável socialmente (a não ser, é claro, que as condições financeiras da comunidade que pastoreia, o exija). O pastorado é uma carreira bonita, sim; o pastor deve se orgulhar por ser sustentado generosamente por sua igreja, sim; e a comunidade de fé deve se sentir feliz e agradecida, sim, por ter um pastor que cumpra com honestidade a sua vocação.


No entanto, as afirmações do nosso penúltimo parágrafo valem para um “pastor de verdade”, repito. Esse negócio de pastor como plano B é um problema, antes de tudo, moral e não vocacional. Para quem se enquadra nessa situação, meu conselho é: tente outra coisa!

segunda-feira, 15 de junho de 2015

"Pastor, posso ou não posso?": Sobre a hiperdependência pastoral

O irmão João quer vender o seu carro. Marca uma conversa de gabinete com o seu pastor para tratar o assunto. "Não venda não, isso é consumismo! Seu carro aguenta mais dez anos". Mas um parente do pastor se interessa pelo carro do irmão. Aí, volta a ovelha ao gabinete, mas agora o conselho é outro: "Meu filho, Deus me falou que é pra você vender o carro (e ainda indica o comprador, que vocês, leitores, imaginam quem seja!).

Piada? Não! Coisas como essas acontecem nas mais variadas formas. É o que chamo de hiperdependência pastoral, mal
do qual sofrem muitas ovelhas evangélicas. Eu também poderia chamar esse problema de hiperintromissão pastoral na vida alheia, "doença" que acomete muitos pastores.

Há um limite para as interferências pastorais na vida pessoal de seus liderados. Esse limite não pode ser violado em nome das prerrogativas pastorais do aconselhamento e da mentoria, ou com base no argumento da "cobertura espiritual". E todo membro inteligente de igreja deve se proteger do abuso de autoridade pastoral. E todo membro inteligente de igreja deve agir como adulto, tomar suas decisões de modo livre e racional, deixando se guiar, em última instância, pela consciência do Evangelho, não por intermediários. E todo membro inteligente de igreja deve abandonar qualquer tipo de dependência infantil de qualquer "autoridade sacerdotal eclesiástica".

Há membro de igreja que não dá um passo na vida sem consultar seus oráculos, seus gurus espirituais (pastor, missionária, bispo, bispa, irmã do reteté, irmão que sobe monte). "Caso ou não caso?; estudo ou não estudo?; viajo ou não viajo?; bebo água ou refrigerante?; meu filho deve se chamar Pedro ou Manoel?". Será que os gurus e os "ungidos do Senhor" possuem algum acesso a Deus que algum cristão comum não tenha? Será que a Bíblia deles possuem ensinamentos que os demais leitores não sejam capazes de ler? Será que as orações desses "mediadores" chegam a Deus via Sedex, enquanto as súplicas do povo vai ao trono da graça via jumentinho? Ou será que Deus é mais predisposto a ouvir as orações dos engravatados e eclesiasticamente investidos de autoridade?

Eu desconfio que falta a uma boa parcela da massa evangélica brasileira o conhecimento da herança teológica e doutrinária da Reforma Protestante. As ênfases do reformadores, dentre outras várias abordagens. eram: os cristãos, todos eles, são um Reino de sacerdotes, com iguais direitos de acesso ao Santos dos Santos pelo novo e vivo caminho aberto pelo véu; a Bíblia deve estar ao alcance dos leigos em língua vernácula; somente Jesus é o mediador entre Deus e os homens.

Há pastores, a gente sabe disso, que se aproveitam dessa consciência religiosa infantilizada de suas ovelhas para exercerem sobre elas um domínio e uma manipulação que não lhes são permitidos. Para os imperadores eclesiásticos interessa a manutenção desse status quo, baseado no paternalismo e na condescendência. Não querem que o rebanho alcance a maturidade, a liberdade da mente e do espírito que a consciência elevada do Evangelho traz. Porque um povo passional, mimado, infantil, clericalmente dependente, é um povo mais facilmente controlado, é gente que aceita como autoridade final a palavra do pastor e não a Palavra de Deus.

Meses atrás, um jovem membro de uma igreja me procurou para uma conversa. Ele estava meio perturbado, inquieto...

- Quero muito fazer uma faculdade, mas não posso - introduziu ele.
- Por que não?
- Poque meu pastor disse que se eu deixar as atividades semanais da igreja para estudar, estarei pecando e atraindo maldição sobre mim.
- Mas você deve estudar! - respondi de modo firme.
- Mas, nesse caso, não estaria desobedecendo ao pastor? Assim, eu não estaria desagradando a Deus?
- Você agradará a Deus desobedecendo seu pastor, nessa questão.
- Como assim?
- Nenhuma autoridade pastoral despótica e abusiva agrada a Deus. "Foi para a liberdade que Cristo nos libertou. Portanto, permaneceis firmes e não vos sujeiteis outra veza um jugo de servidão". Toda dominação de consciência que imponha a alguém obrigações e jugos que nada tem a ver com a liberdade do Evangelho puro e simples é diabólica.

O moço está estudando Engenharia Civil. Com a graça de Deus e para a glória de Seu Nome se tornará um excelente engenheiro. Eu espero que ele construa igrejas, muitas delas, que não sejam gaiolas da consciência, mas bosques onde os filhos de Deus vivam a liberdade do Espírito de Cristo.

sábado, 6 de junho de 2015

Pastor: produto de (final) de feira

Esta é a sensação que tenho quando observo em que o ministério pastoral se tornou em muitos contextos dessa nossa igreja evangélica brasileira: descaracterização, vulgarização, barateamento.

Vou tentar, caro leitor, explicar o que isso tem a ver com o título que coloquei acima. Na tradicional feira de sábado em Itaperuna, onde os agricultores vendem seus legumes e frutas, a gente tem uma oportunidade de ver os amigos, comprar coisa boa a preço bom, comer pastel com caldo de cana, em meio ao empolgante falatório e mistura de rostos, cores e cheiros. É bom! Quando vai chegando o final da feira, os feirantes ficam mais "generosos", querem voltar para casa com os caixotes vazios e aí é hora de comprar três dúzias de bananas pelo preço de uma. Vai ficando tudo mais barato...

Vejam, nunca foi tão fácil ser pastor. Aliás, ser pastor é algo tão barato e comum (banana nanica no final de feira) que a moda agora (para os "vocacionados" espertalhões) é ser apóstolo, arcanjo, patriarca e outros títulos mais honrosos, de maior expressão. "Para mantermos nossos distintos privilégios, temos que criar títulos de distinta honra", está aí a filosofia da coisa. Banalidade pura...

"O mercado religioso está repleto de milagreiros, de gente produzindo respostas, e todos eles dizem ter credenciais outorgadas por Deus" (Eugene Peterson).

Adolescente, Ensino Médio concluído, não divisava outro horizonte a não ser o Seminário Teológico e o ministério pastoral. Não me ocorria nenhuma outra inclinação, nenhum interesse significativo por Medicina, Direito ou Engenharia. Apaixonado por Bíblia, por púlpito e por gente, percebia em mim (não por "profecia" alguma, mas por convicção pessoal) uma vontade, ou talvez aquilo que Aristóteles chama de "potência", de ser pastor. Acho que por isso o rumo das coisas me entristece tanto... 

Mas hoje vivo em plena crise, tentando manter viva a vocação e discernir com maior clareza que é ser pastor no meio do nevoeiro que existe. Nessa luta pela afirmação de uma identidade biblicamente pastoral, Eugene Peterson (um dos pastores com quem mais aprendo o que é ser pastor) tem me ajudado bastante. Peterson, em sua autobiografia "Memórias de um Pastor", conta que o desabrochar de sua vocação pastoral ocorreu não sem muita crise. Crise porque, durante sua infância e adolescência, a imagem de pastor que foi se internalizando em sua consciência era a pior possível. Na comunidade eclesiástica onde ele foi criado (uma Assembleia de Deus interiorana nos Estados Unidos), os pastores não ficavam o tempo suficiente para construírem relacionamentos verdadeiros com as ovelhas, seus conselhos tinham tons de condescendência, superioridade e paternalismo, seus sermões eram teologicamente pobres, repetitivos, chatos. Ele mesmo confessa:

"Não dera muita sorte com os pastores que tive. Não gostava da maneira condescendente com que eles me tratavam, não gostava do tom clerical com que pregavam e oravam, não gostava dos clichês que infectavam o vocabulário deles. A religião, da forma que eles a apresentavam, não tinha seiva. [...] Eu respeitava as Escrituras. Jesus para mim era assunto sério. A igreja também, assim como a oração, mas não os pastores. Em geral, eles pareciam não ter nada a ver com tudo isso".

Ser pastor era a última coisa que Peterson escolheria. Por isso, quando Deus o surpreendeu, irrigando com as gotas da Sua vontade soberana as sementes da vocação pastoral plantadas em seu coração, Peterson relutou, a princípio, pois tudo isso lhe era paradoxal demais. Ele assumiu o seu chamado, estando disposto a aprender, na experiência desafiadora, relacional e crítica de pastoreio de uma comunidade local, a ser um pastor segundo o coração de Deus e não um profissional da religião, a conceber o pastorado como uma vocação espiritual e não "uma oportunidade de negócio que atenderia ao gosto de consumo de pecadores".

Círculos denominacionais mais ligados à Reforma e também alguns pentecostais históricos buscam preservar a dignidade do ministério pastoral ainda, seja preparando melhor teologicamente seus pastores, seja mentoreando-lhes espiritualmente mais de perto, seja avaliando melhor suas reais condições de serem pastores de almas. Mas em outros contextos, especialmente em grupos neopentecostais ou neopentecostalizados (não estou generalizando aqui), não há muitos critérios bíblicos. Além do pragmatismo mercadológico, do profissionalismo, do marketing pessoal e do oportunismo financeiro, destaco outras coisas que ridicularizam o pastorado: 

a) pastor, não como vocação específica, mas como patamar em uma escala hierárquica denominacional;
b) a ordenação pastoral como troca de favores, pagamentos ou gratificações por parte de líderes manipuladores e narcisistas (é o caso de pastores presidentes que consagram outros pastores a fim de terem mais aliados políticos e bajuladores em seus governos autocráticos);
c) pastores sendo ordenados por questões de poder econômico ou influência política e social (o fato de alguém ser um Juiz de Direito já o torna automaticamente um forte candidato ao ministério?);
d) a indolência e a ociosidade de muitos pastores;
e) os escândalos morais de larga repercussão;
f) a falta de preparação teológica formal e o analfabetismo bíblico;
g) a superficialidade da devoção espiritual;
h) a manipulação inescrupulosa de textos bíblicos para defesa de vontades pessoais por parte de pastores autoritários ou oportunistas, dentre outras coisas.

Um pouco antes de escrever esse texto, apaguei uma mensagem da minha caixa de e-mail. Tratava-se de um anúncio em letras garrafais: 

CURSO DE PASTOR! REALIZE SEU SONHO E ABRA SUA PRÓPRIA IGREJA! OFERECEMOS DIPLOMA E CREDENCIAL RECONHECIDA INTERNACIONALMENTE!

Sei que os pastores mais éticos e conscienciosos ficam indignados. Há muitos pastores que eu me recuso a reconhecê-los como tal. Há muita coisa que deixa os pastores de verdade envergonhados. E infelizmente, a sociedade secular é impiedosa e não faz distinção em seus julgamentos: "é tudo farinha do mesmo saco". E como agravante, temos o fato de que a maioria da manada é simplória, massa precariamente evangelizada e que pouco se importa com as reais competências de seus pastores, desde que estes funcionem como bons gurus espirituais e garantidores de bençãos desejadas (o perfil do pastor é o perfil de sua igreja). Aí, aos pastores de compromisso e de vocação, só lhes resta suportar, aguentar firme e buscar inspiração em exemplos que prestam.

Particularmente, a vida pastoral de Jesus, a doutrina pastoral de Paulo e a teologia pastoral  de Eugene Peterson têm sido bússola na minha vivência vocacional. Não seria justo da minha parte, se esquecesse de mencionar o querido Padre Zóssima (personagem de "Os Irmãos Karamázov" de Dostoiévski), cuja sabedoria pastoral me toca essencialmente toda vez que leio essa monumental obra dostoievskiana. Em Zóssima encontrei um sopro renovador da beleza e da profundidade de ser um pastor de almas.





Referências: Todas as citações de Peterson foram extraídas de sua obra Memórias de Um Pastor, publicado no Brasil pela editora Mundo Cristão.

quinta-feira, 21 de maio de 2015

Nunca Ganhei uma Alma


Lendo Dostoiévski, descobri que na Rússia czarista os servos eram chamados de "almas". Media-se a riqueza de um homem pela quantidade de almas que tivesse. Num repente, veio a mim a relação entre esse dado e uma questão soteriológica da qual passarei a tratar a seguir.


Cresci ouvindo que todo bom cristão deve ser um ganhador de almas. Aí está a riqueza de um homem perante Deus. O trecho da canção "Despertar para o trabalho" ilustra bem essa crença:

"Posso tendo as mãos vazias,
Com Jesus eu me encontrar?
Quantas almas poderia
Ao Senhor apresentar?".

Cada vez que ouvia essa canção sentia um arrepio. Na minha imaginação infantil, Deus, no final de tudo, faria como uma cigana que nos pede as mãos para lê-las. Eu tinha que me esforçar para levar amigos pagãos à igreja, pois os seus nomes seriam magicamente gravados nas minhas mãos (um tipo de tatuagem invisível).

O primeiro livro de Homilética que li foi José da Silva, um pregador leigo, por volta, talvez, dos meus oito anos de idade. O livro enfatizava a importância do apelo como a cereja do bolo, o pedrinha de brilhante do anel de ouro, o acabamento final e indispensável de qualquer sermão, pois o objetivo maior de todo pregador é "ganhar almas". Na altura dos doze anos, recordo-me bem, preguei um sermão (o tema não me lembro) em alguma igreja e, após o apelo final, duas pessoas foram à frente, confiar publicamente suas almas a Jesus. No final do culto, um pastor de jeito engraçado, vou chamá-lo aqui de Pastor K., me cumprimentou, dizendo: "Parabéns, meu jovem pregador! A sua pregação teve almas!". Não sei se ele recordava de alguma palavra que eu havia dito. O resultado final era o mais importante.

Há pregadores que mantêm em dia a contabilidade das almas ganhas. Não faz muito tempo, ouvi um deles se orgulhar de seus números diante dos ouvintes: "Irmãos, Deus tem abençoado muito o meu ministério. Somente no ano passado foram 365 almas, uma para cada dia do ano". Por um momento, deixei-me regressar à meninice e pensei o quanto seria difícil escrever tantos nomes em apenas duas mãos.

Não sei precisar cronologicamente, mas em algum momento da vida comecei a questionar internamente essa ideia que vou chamar aqui de "Banco de Almas do Céu": cada pessoa que eu convenço a seguir a Cristo é uma alma creditada na minha conta no céu; no Dia do Juízo, Deus emitirá um extrato e estará tudo lá . Creio que a cellula mater dos meus questionamentos quanto a esse assunto está na minha leitura do texto de João 6.44:

"Ninguém pode vir a mim, se o Pai, que me enviou, não o atrair; e eu o ressuscitarei no último dia" (NVI)

Eu nunca converti ninguém, nunca ganhei uma alma. Por Deus, essa ideia de que se pode converter alguém... O que se pode (e isso tento fazer) é ensinar, pregar o Evangelho, testemunhar. Todas as almas ganhas, são ganhas por Cristo. Ele é o grande ganhador de almas. Todas, inclusive a minha, estão creditadas na Conta dEle. Não, queridos leitores, não é a minha retórica, a eloquência do meu discurso, a chave do coração de alguém.

Quem poderia conquistar a alma de C.S. Lewis? Ainda bem jovem, iniciou um processo gradativo de repúdio ao cristianismo e passou a desenvolver um pessimismo filosófico inquietante. Não queria acreditar na existência Deus, mas ao mesmo tempo se irritava com Ele por não existir. Enquanto lutava internamente, armado com o seu materialismo racional, contra a ortodoxia cristã, Lewis tinha a constante sensação de que o mundo não se resumia ao que pode ser percebido apenas pelos sentidos naturais; deveria haver o Outro Lado do Rio, a Transcendência, o Mistério. Para o criador de Nárnia havia um Desejo mais desejável que qualquer outro desejo que possa existir. A isso ele chamou de Alegria. Não é o mesmo que prazer, seja erótico ou estético; é algo muito maior. Comparar a Alegria ao prazer carnal era o mesmo que comparar o Sol ao reflexo dele na gota de orvalho. Assim, Lewis foi sendo cada vez mais atraído por Cristo, como a gravidade atrai todos os corpos para o centro da Terra. Então, em uma noite, domingo de Páscoa, exausto, sem ter como mais fugir, o intelectual de Oxford se rendeu ao doce poder da Graça, reconhecendo que Deus era Deus. Ele mesmo disse

"Naquela noite, quem sabe, eu era o mais deprimido e relutante convertido de toda a Inglaterra".

John Stott, em seu livro Por que sou cristão, afirma, como primeiro motivo, o fato de ter sido caçado, capturado por Deus. Ele ilustra Cristo, em Sua ação graciosa, como o "Cão de Caça do Céu". Não foi isso que aconteceu com Lewis, prostrado naquela noite em seus aposentos na Inglaterra? Não foi isso que ocorreu a Paulo, derrubado ali, sem forças, na estrada de Damasco?

Graças a Deus, posso anunciar a Cristo, sem me preocupar com a contabilidade das almas, sem a presunção de uma conta gorda no Banco de Almas do Céu...




Fonte: LEWIS, C.S. Surpreendido pela Alegria. Viçosa: Ultimato, 2015.
           STOTT, John. Por que sou cristão. Viçosa: Ultimato.