
Mas, existe um outro tipo de terrorismo que, por sua
aparência externa de piedade, ainda consegue ser mais nojento. Falo do
terrorismo espiritual, praticado por cristãos evangélicos desequilibrados (como
é o caso de alguns membros de círculos pentecostais) contra seus próprios “irmãos”
na fé.
O terrorismo espiritual, cujos principais agentes são os
chamados profetas e profetizas, é caracterizado por formas de discurso que
geram medo, aflição e desespero, em nome de Deus. É um mecanismo de poder e
controle, empregado por alguns estranhos personagens carismáticos, que é
legitimado por uma suposta autoridade que vem do Céu. Com base em ameaças e chantagem
espiritual, eles conseguem a submissão cega e muda de seus seguidores, sem
enfrentar resistência alguma.
O terrorismo espiritual se expressa em frases, como: “Se
você não fizer isso ou aquilo, Deus vai pesar a mão sobre você!”; “Não toque no
ungido do Senhor!”; “Os rebeldes [entenda-se aqueles que não concordam com os
ensinos e as práticas do arrogante profeta], Deus vai matar”. Eu mesmo já ouvi
sentenças de morte sendo desferidas contra pessoas, em nome de Deus.
Amanda, jovem universitária, contou-me que só se “converteu”
em um culto pentecostal porque certa “profetiza” lhe disse que, caso ela não
aceitasse Jesus naquele exato momento, o diabo a mataria. Quanta bestialidade!
Sendo que as Escrituras, livro onde os evangélicos coerentes, embasam sua fé,
deixa claro que a conversão e o arrependimento são graças divinas, aplicadas
eficazmente pelo Espírito Santo na interioridade do indivíduo. A fé, dom de
Deus, é despertada pela simples pregação do Evangelho e não pelo sermão
violentador da consciência e aterrorizador do espírito.
Caio, é um profissional liberal, muito inteligente e questionador.
Há dois anos, por alcançar uma nova e mais compreensão do Evangelho, decidiu
sair da sociedade religiosa pentecostal da qual era membro para se vincular a
um grupo protestante histórico. Após
essa mudança, ocorreu-lhe uma situação muito triste na vida pessoal. Para
aumentar ainda mais a ferida, assim como os amigos de Jó, apareceu em cena mais
uma dessas profetizas, uma terrorista espiritual, com a seguinte mensagem ao
pobre homem: “Isso lhe sobreveio porque você é um rebelde, abandonou a sua
igreja e perdeu a benção espiritual do seu pastor. Enquanto você não fizer o
caminho de volta, essa maldição não lhe será tirada”.
Isso é uma afronta à liberdade de expressão e crença de uma pessoa. Trata-se de um discurso intimidatório, criminoso, cerceador da livre consciência de fé. Aquele que pratica tal coisa não deveria ficar impune perante a lei. Toda pessoa que confia de todo o coração em Cristo, está nas garras da graça e ninguém pode arrancá-la de lá, sendo Cristo mesmo o único mediador dessa graça de Deus. Isso significa que o favor de Deus não está condicionado à intercessão, mediação ou cobertura espiritual de nenhum sacerdote humano ou líder religioso algum. Quem pode condenar aos que Deus justificou? Quem pode amaldiçoar aos que Deus abençoou?
Isso é uma afronta à liberdade de expressão e crença de uma pessoa. Trata-se de um discurso intimidatório, criminoso, cerceador da livre consciência de fé. Aquele que pratica tal coisa não deveria ficar impune perante a lei. Toda pessoa que confia de todo o coração em Cristo, está nas garras da graça e ninguém pode arrancá-la de lá, sendo Cristo mesmo o único mediador dessa graça de Deus. Isso significa que o favor de Deus não está condicionado à intercessão, mediação ou cobertura espiritual de nenhum sacerdote humano ou líder religioso algum. Quem pode condenar aos que Deus justificou? Quem pode amaldiçoar aos que Deus abençoou?
Já que o nosso texto está um pouco sombrio hoje, vou contar
um último caso, tendo como cenário um funeral. João perdeu a sua esposa. Um
profeta do medo, após a cerimônia fúnebre, procurou o viúvo e, ao invés de
consolo, entregou-lhe uma perversa explicação espiritualizada da causa mortis: “Ela morreu para que você
se acertasse com Deus”. Terrorismo, paganismo, covardia! Até hoje, João lida com o desespero causado
pela culpa de ter sido o possível causador da morte da mulher amada. Tenho
orado com ele, buscando o conforto do Pai de Amor e Misericórdia.
O Deus que
conheço não requer sacrifícios humanos para cobrir os pecados de ninguém.
Cristo, Ele é o único sacrifício, feito de uma vez por todas, aceito para a
redenção daqueles que, graciosamente, desde a eternidade Deus designou para a
salvação. Deus não mata ninguém para salvar ninguém. Quem mata é o diabo e seus
agentes, dentre os quais, os terroristas espirituais. Esses, semeiam morte e
não vida, espalham trevas e não luz, pregam um deus caprichoso e vingativo ao
invés do Deus rico em graça e benignidade, são portadores do desespero e não da
esperança, são servos da escuridão e não da luz.
Nessa história toda, fica agora o velho, porém extremamente
atual, convite dos reformadores da Igreja do século XVI a cada evangélico desse
país: volte-se para as Escrituras, reconhecendo nelas a única profecia revelada
e autorizada por Deus, como fonte de autoridade espiritual e moral, de fé e de
obras, de pensamento e de ação. Não merecem atenção tanto os profetas da
prosperidade, que vendem um deus Papai Noel, manipulado e risível, quanto os
profetas do medo, que criam um deus tirano e ameaçador.
Termino com o artigo 1º do Capítulo 21 da Confissão de Fé de
Londres de 1689, que é um antídoto contra o veneno dos terroristas espirituais:
“A Liberdade que Cristo comprou para os crentes, no evangelho (...) consiste no
livre acesso a Deus, no prestar-lhe uma obediência não suscitada por medo
escravizador; e, sim, por amor, como o de uma criança, voluntariamente”.
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